sábado, 3 de fevereiro de 2024

OS TROPEIROS DAS ACAUÃS E SUA ALIMENTAÇÃO RÚSTICA

OS TROPEIROS DAS ACAUÃS E SUA ALIMENTAÇÃO RÚSTICA

Pesquisa do maitre Heleno Henriques de Araújo, há 50 anos na gastronomia

Tropa é um agrupamento de pessoas ou animais de uma mesma espécie. Três ou mais jumentos ou cavalos formam uma tropa. Em especial o burro mulo que transportava produtos do sertão para as cidades grandes e voltavam carregados com produtos manufaturados. 

Acauã é um tipo de pequeno gavião com bico de papagaio e garras fortes. Conhecida como devoradora de cobras. Ela habita as várzeas dos rios por lá existirem muitas espécies de cobras. Existem relatos de vagueiros que já viram uma ave acauã matando uma cobra cascavel. Em voo rasante, ela grava as fortes unhas nas proximidades da cabeça da cobra e com seu forte bico esbaguaça a cabeça da venenosa. 

Luiz Lua Consaga, o maior de todos os nordestinos, diz em sua canção: "Acauã, sapo cauã, chamando a seca pro sertão.  Acauã, teu canto é penoso e faz medo. Te cala acauã, que é pra chuva voltar cedo". 

Os tropeiros eram homens rudes e jovens que contratados pelo tropeiro-chefe transportava carne do sertão assim chamada. No início do século XVIII, no seridó nordestino, até as chamadas cidades grandes como Vila Nova da Rainha, hoje Campina Grande e Paraíba, hoje João Pessoa. Os burros mulos eram animais roburstos, afeitos a caminhadas longas, transportando em seus lombos mercadorias diversas. 

O burro-mulo jumenteiro era filha de jumenta e cavalo. O burro-mulo bestero era filho de égua e jumento grande. Uma tropa era formada por seis burros-mulos de carga carregando cada um 2 fardos de mercadoria de 40kg cada, totalizando 480 kgs de carne do sertão. As viagens eram programadas com 2 tropas de burros com seis animais cada. O tropeiro-chefe tinha dois ajudantes em cada uma tropa que levantava acampamento ao nascer do sol, dormindo no mato, fora da estrada, para fugir dos assaltos até então já existentes. 

Caminhavam até as onze horas, paravam para almoçar e reiniciavam a caminhada até às cincos horas da tarde, quando então aportavam em algumas vezes nas chamadas pousadas que eram pequenas pensões onde existiam alimentação e capim para os animais. 

A massa de produtos da viagem de ida era geralmente carnes de sol que eram entregues com fornecedor endinheirado que trocava carne de sol por dnheiro vivo. Estipulava-se três dias de descanso para os animais, com farto capinzal para alimentação que iniciava a viagem de volta carregado com café, rapadura, sal, querosene, sabão, fumo, fósforo e materias da agricultura como ferramentas, arreios de cavalos, esporas, selas.

A alimentação dos tropeiros era quase única com feijão tropeiro feito farofa, com charque e toucinho picados ligados com farinha de mandioca crua e branca. o arroz carreteiro era feito com arroz da terra, cozido com charque, desfiado, pedaços pequenos de queijo de manteiga e pedaços graúdos em carne de sol separado, 

De sobremesa existia a cocada branca de coco e a sorda, um misto de biscoito e bolacha, feito com rapadura, farinha de mandioca, erva-doce e pimenta do reino ralada. Existia ainda o bode assado em latas que era o bode assado cortado em graudezas, posto numa lata tampada sobre pressão que era somente aberto na hora da refeição. 

Ser empregado de um tropeiro-chefe era um privilégio para os jovens que viviam uma vida de desempregados, pois apesar da crueza do trabalho de tropeiro existia uma renda financeira pequena, porém certa, de 3 em 3 meses. Salve os tropeiros das acauãs do seridó nordestino.