sábado, 27 de novembro de 2021

Borrego assado

 Picuí grande - Série reminescências 10

Borrego assado no rolete de Joaquim Barrigudo
Extraído do caderno de receitas da matriarca Clementina Bertoldina da Conceição que em 1857 casou-se com o produtor rural Manuel Henriques da Costa. Para 15 pessoas.

Pegue um carneirinho mamão abatido de 14 a 16 quilos, retire o couro, os 4 mocotós e a cabeça. Abra no ventre, retirando a barrigada para o preparo da buchada. Fure todo o animal com uma faca fina para penetração dos temperos. Pigue um quilo de cebola, duas cabeças de alho, 4 pimentões, 2 maços de arlequim fresco e com sal passe todos os temperos nos burregos, fazendo com que penetre nos buracos da faca.

Faça uma engenhoca com 2 forguilhas de pau a pique para que o animal fechado inteiro seja assado no braseiro com o rolete, que é um pau roliço, enfiado na parte de trás do animal a ser assado, amarrado com barbante, para que uma pessoa fique durante 1 hora rolando o rolete em consequência, assando todas as partes do carneirinho, que após ser assado vá sendo cortado em lascas para misturar ao arroz e à farofa. E continua rolando o rolete.

Acompanha arroz da serra quebrada, que é feito com 2 quilos de arroz da terra refogado na manteiga da terra, com 2 cebolas grandes e 1 cabeça de alho. E após estar cozido acrescenta-se meio quilo de angu de queijo, 200 grmas de nata salgada e mexe-se para se tornar um só produto. Reserve.

O outro acompanhamento é a farofa da tábua lascada que consiste em se fazer um cuscuz de 1 quilo de massa, reservando para se acrescentar o fundo de panela que será descrito. Cozinhe uma galinha gorda de três quilos em 1 litro de água, depois desfie toda a galinha, inclusie deixando a pele. A galinha temperada com sal e cominho. Refogue em uma panela à parte 2 xicaras de manteiga da terra, em meio quilo de toucinho defumado picado. Misture com a galinha desfiada. Quando chegar no estágio de morno acrescentar o cuscuz machucando bastante para se tornar forte com a farofa.

O casal Manuel Henriques da Costa e Clementina residiram por mais de 50 anos na fazenda Volta, na Serra Quebrada. Tiveram oito filhos e 43 netos.

Heleno Henriques de Araújo.

sábado, 30 de outubro de 2021

Polígono das secas

Polígono das secas
Território mais prejudicado do Brasil
Picuí grande - Série reminescências 09

Ele compreende os estados da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, Maranhão e parte do norte de Minas Gerais. Aqui chove em média por ano 400 a 600 mm e há regiões em que chove menos, causando um desabastecimento em gêneros alimentícios  e água em quase 50% das previsões, pois chovendo de janeiro a junho, o restante do ano é estio total. Se houvesse irrigação e chuvas mais constantes o nordeste seria abundante em sua produção.

Sabe-se que um quilo de feijão de arranca possui 600 grãos, que planta 150 covas de feijão com 4 caroços cada que safreja 4 vagens de 5 grãos cada um. que na colheita com feijão batido nos terreiros das casas rurais obtem-se 3000 grõs de feijão que totalizarão aproximadamente após a quebra natural da colheita 6 sacos de 50 quilos cada.

Essa produção era transportada pelos produtores em lombo de burros mulos, animal híbrido do cruzamento da égua de raça com jumento grande, resistente às grandes caminhadas, ate chegar na capital do estado e adjacências, onde era vendido aos atacadistas. Após o descanso de dois dias, os animais voltavam carregados com tecidos, ferramentas de agricultura, rapadura, café, sal, sabão, querosene e fumo. Mercadorias que eram compradas pelo botqueiros de então.

Os tropeiros eram homens rústicos, destemidos que tocavam suas tropas do nascer ao pôr do sol. Alimentavam-se de paçoca que é feito com carne de sol assada, batida no pilão, misturada à farinha de mandioca branca e crua, queijo de coalho duro e rapadura, juntanso-se as proteínas da carne e do queijo ao carboidrato da rapadura, trazendo energias a esses desbravadores do sertão nordestino.
 
O que se vê hoje em dia é o não cumprimento da equivalência do produto o que significa plantar 10 quilos de feijão e na colheita vender a mesma quantidade de mercadoria pelo preço que fora comprado. O excesso da produção faz o preço cair absurdamente desvalorizando as mercadorias ofertadas e diminuindo grandemente o luvro do produtor rural.

Até 1950 encontrava-se facilmente glebas rurais produzindo uma agricultura de culturas consorciadas com feijão, arroz, milho, batata doce, jerimum e melão, que somados à produção de 8 a 10 cabeças de gado, fazia com que o homem do campo tivesse um bom lucro financeiro ao ponto do mesmo, de 3 em 3 anos, comprar uma casa residencial no povoado mais próximo para nas festas do padroeiro, na noite de Natal, levar sua família para se divertir na vila.

A Sudene que foi criada para atender o pequeno produtor rural tornou-se ao longo dos anos a mentira mais fantasiosa do nordeste, patrocinando grandes empréstimos a grandes empresários, procedimentos que não constavam de sua carta de fundação. Esperamos que a transposição das águas do Rio São Francisco amenize o sofrimento do povo nordestino, pois na colonização daqui quem possuía 10 cabeças de gado era considerado um homem rico.

Heleno Henriques de Araújo.

sábado, 23 de outubro de 2021

Assado de boi herado

Assado de boi herado
No sistema de fogo de monturo
Picuí grande - Série reminescências 08

Extraído do caderno de receitas da matriarca Clementina Bertoldina da Conceição, esposa do produtor rural Manuel Henriques da Costa da Fazenda da Volta - Picuí PB

Boi herado é um animal com mais de cinco anos, criado solto nos campos de pastagem.  Fogo de Monturo é o sistema de queimar devagar restos de madeira de móveis velhos  e de todo produto não utilizável. Esse sistema costuma queimar a madeira devagarzinho, por 24 horas. Pega-se uma peça do boi chamada carne de peito, capa de costela, cochão duro e do tamanho de 3 quilos abre-se a peça ao cumprido, temperando fortemente com sal, cebola, alho, pimentão, hortelã da folha miúda e meio quilo de toucinho defumado. Enrola-se a peça recheada com os temperos amarrando-a com um cordão de barbante. Como se fosse um rocambole. Coloca-se a peça dentro de um saco, daqueles que vem com feijão. Um saco vazio. Amarrando de ponta a ponta com barbante. Coloca-se em cima de uma trempe do fogo de montero e deixa-se assando longamente como se fosse o atual sistema de assar costelas bovinas.  

A peça de carne bovina fica assada no que se chama popularmente de assado no bafo. Fica tão macio que se corta até com uma colher das de sopa. Mesmo que seja as partes mais duras do animal abatido.

Acompanha arroz branco refogado a alho e óleo, misturado com farinha de mandioca branca e crua, com queijo de coalho duro, ralado grosseiramente. Esse é um prato domingueiro que leva bastante tempo para ser preparado. Acompanha também batata doce assada igualmente na casca banhada ao mel de abelha silvestre.  

Heleno Henriques de Araújo.

sábado, 16 de outubro de 2021

As fontes de água dos rios, riachos e esbarros d´água

Picuí Grande Série Reminiscências 07

As fontes de água dos rios, riachos e esbarros d´água

Antônio Henriques Neto, o princípe dos poetas da literatura nativa, em seu primoroso poema "O Véio Carro de Boi", encantou ao mundo da poesia matuta, declamando teluricamente:

Já Véio, muito cansado,
Um dia fui convidado
Pra cunhecer a capitá
Vi muito luxo e riqueza
Mas toda aquela beleza
é mais artificiá

Vi as águas cristalina, trancada numa piscina
Briando contra a vontade
Deferente das maretinhas dos rios
Que correm em totá liberdade

Muito embora tenhamos bons rios como São Francisco, Pajeú, Paraíba, Potengi, Seridó, Jaguaribe, Castanhão, Parnaíba, as águas são grandes problemas para o nordeste, pois as temporadas das chuvas geralmene chegam em janeiro e terminam em maio, não existindo acúmulo de águas para o restante do ano.

O sesmeiro com documentos da posse da terra nas mãos, procurava junto com sua família, uma fonte de água, perene ou temporária, para erguer sua casa de morada, pois as paredes da mesma eram feitas de pau a pique e reforçadas com barro molhado, com água, que é chamado de "barro batido".

Essa mesma água era necessária para o dia a dia dos seres humanos e dos animais. A sorte era que quando aparecia um boi com os cascos molhados de lama, já que os mesmos viviam livres nas capoeiras e nas colinas, pela falta de arame farpado, para cercar as propriedades. Era só o vaqueiro seguir o rastro do animal recém chegado que se descobria uma nova fonte de água.

No período considerado crítico, que era de julho a dezembro, os sitiantes vendiam na sua produção agro pastoril pela metade do preço da mercadoria. Com o dinheiro arrecadado supria as necessidades das sesmarias. Por exemplo, uma novilha gorda de 200 quilos, que deveria ser vendida por 4 mil reais, o atravessador endinheirado só oferecia a metade do preço. E assim acontecia com as mercadorias produzidas no campo.

Na minha terra o rio Acauã é o mais importante dos demais. Ele nasce na serra do cotovelo e desce no sentido do sol nascente, recebendo os afluentes chamados Várzea, Letreiro, Cachoeirinha, Da Volta, Gravatá, Passagem, Araújo, Tamanduá, Barra, até encontrar-se o arruado Pucuhy com o rio do Pedro, que tem as suas nascentes na Serra do mesmo nome, criando um grande volume de água que banha rio abaixo as margens acricultáveis de uma infinidade de agriculturas ribeirinhas. A ação benéfica do rio Acauã é que, embora temporário, já foi apelidado de "pequeno rio Nilo do sertão nordestino".  

As chuvas anuais daqui do nordeste, quando caídas no seu devido tempo, é a maior riqueza que o povo comemora de acordo com as fases da Lua.

Heleno Henriques de Araújo.

sábado, 9 de outubro de 2021

As abençoadas raças bovinas que enriqueceram o nordeste brasileiro.

Picuí Grande Série Reminiscências 06

As abençoadas raças bovinas que enriqueceram o nordeste brasileiro.

Tudo começou quando em 1549 Portugal empossou o primeiro governador geral do Brasil Tomé de Souza, que trouxe consigo uma grande equipe com destaque para o primeiro almoxarife do Brasil, o Seu Garcia D´Avila que tinha as atribuições de emitir títulos de posse das sesmarias relacionando as doações do império luso aos sesmeiros, tais como gado bovino, animais de carga, criações miúdas, sementes e mudas para que os projetos fossem adiante.

Com as caravelas vieram as primeiras cabeças de gado da raça mirandesa, que eram distribuídas entre os donos das sesmarias. Era um gado de pequeno porte, pelagem amarelada, que se adaptou perfeitamente às pastagens do nordeste. O macho adulto pesava não mais do que 20 arroubas e a fêmea alcançava a produção diária de 4 litros de leite, o suficiente para criar o seu bezerro.

Com a invasão holandesa no estado de Pernambuco quando Maurício de Nassu importou dezenas de reprodutores da raça holandesa para melhorar a genética dos animais aqui existentes. Principalmente para operacionalizar as moendas das usinas de cana de açúcar. E o cruzamento da primeira com a segunda raça surgiu um animal mediano de pelagem preta apelidado de gado pé duro, despertando o interesse dos ruralistas em incentivar o cruzamento melhorando os ganhos financeiros da pecuária.

Em 1808 com a chegada do rei Dom João VI ao Brasil, ele trouxe enormes bois da raça caracu para puxar as carruagens imperiais. Animais de pelagem amarelo caramelado, despertou pouco interesse dos criadores em reproduzi-lo.

Em 1896 o selecionador de gado Assis Brasil interessado no índice de produtividade importou as primeiras cabeças de gado Jersey da ilha do mesmo nome encravada entre a Inglaterra e a França. Animal pequeno, a fêmea consumia a metada da forragem da vaca holandesa e produzia a mesma quantidade de leite diária, sendo que o índice de gordura desse produto era superior ao leite das concorrentes, o que fazia com que a vaquinha Jersey se tornasse uma excelente produtora de queijos.

Em 1918 o pecuarista Eliseu Camargo trouxe do cantão Xuite na Suiça dezenas de reprodutores da raça Pardo Suiço, que é um animal bastante graúdo bom de corte e de produção de leite. Por fim em 1950 a próspera Uberaba importou 60 animais da raça Zebu, como o Nelore, Guzerá e Gir, cujo cruzamento tricross gerou a primeira raça de gado brasileira que foi a InduBrasil.

Assim criou-se uma historiografia própria da vida de gado que na pia batismal do sertão obedece aos seguintes parâmetros: bezerro de 1 ano, garrote de 2 anos, novilhote de 3 anos, novilha de primeira cria de 4 anos, toureco e boi de lote de 5 anos. Lembrando que a primeira vaquejada que se tem noticia no Brasil aconteceu em 1874 na região dos Currais Novos.

Heleno Henriques de Araújo.

sábado, 25 de setembro de 2021

Atos oficiais que criaram o munícipio de Picuí

Picuí Grande - Série Reminiscências 05

Atos oficiais que criaram o munícipio de Picuí

Sesmasia 50 - Criando o arruado do arraial do Rio Acauhan.

Decreto 232 do presidente da provincia da Paraíba José Peregrino de Araújo de 27 de fevereiro de 1904, criando o munícipio de Pucuhy, que já nasceu grande agregando os povoados de Caboré, Jerimun, Pedra Lavrada, Santo Antônio, Canoas, Barra de Santa Rosa, Damião, Algodão de Jandaira, Sossego, Baraúnas, Olho dÁgua das onças. Nesse mesmo decreto instalou oficialmente no dia 9 de março de 1904 o municipio de Picuí, empossando a primeira junta governativa composta pelos senhores Manuel Lucas de Macedo, Pedro Henriques da Costa e Pedro Celestino Dantas. a qual governou até 31 de dezembro de 1904, quando foram realizadas eleições gerais.

Lei 876 elevando à condição de vila o povoado de Picuí, assinada em 27 de novembro de 1888.

Lei 599 elevando a condição de cidade a vila de Picuí. Assinada em 18 de março de 1924.

Lei 212 criando a comarca de Picuí assinada no dia 24 de novembro de 1924.

Lei provincial 440 criando a freguesia de São Sebastião do Triunfo assinada no dia 18 de dezembro de 1871.

Lei 1549, quando na instação do governo Tomé de Souza, até 1850 ano da lei do ventre livre o Brasil importou 5 milhões de africanos, para trabalhar nas atividades agropastoril, ressalte a grande contribuição da mão de obra escrava deu na construção das fazendinhas do lugar.

Heleno Henriques de Araújo.

sábado, 18 de setembro de 2021

Galinhada à Tabajarina

Picuí Grande Série Reminiscências 04
Galinhada à Tabajarina
Para 10 pessoas

Modo de Preparo:
Corte uma galinha antiga de 3,5Kg, no osso e com a pele em 24 pedaços. Tempere fortemente com sal, cuminho, alho, cebola, pimentão e coentro verde. Faça um fundo forte de panela com 2 xicaras de chá de manteiga da terra. Refogue 2 cebolas médias e 1 cabeça de alho, 2 pimentões verdes, 1/2 maço de coentro verde, tudo picadinho, junto com 1/2 kg de toucinho defumado (bacon).  Acrescente os pedaços da galinha com osso e com pele, adicionando 1 litro de água, tampando a panela por 20 minutos, mexendo sempre.

Em uma panela separada a frio, faça o seguinte molho: Machuque com uma colher de pau 15 frutas do tipo umbu, no estágio inchado, machucando-os com a casca e o caroço. Acrescente 5 xicaras de chá de nata salgada. Duas colheres de cuminho em pó, 2 colheres de mel de abelha, misturando bem esses produtos, colocando essa misturação para dentro da panela da galinha, deixando cozinhar em fogo lento por 30 minutos. Acompanha 1 kg de arroz da terra, feito com 300g de castanha de cajú assada, passada no pilão e ligado levemente com angú de queijo fresco. Sirva-se quentíssimo.

Receita número 3 do caderno de receitas da matriarca Clementina Bertholdina da Conceição, esposa do produtor rural Manuel Henriques da Costa cujo casamento aconteceu no ano de 1857 na igreja de Nossa Senhora das Mercês, em Cuíte PB, cidade de origem da noiva. Residiram por 50 anos na Fazenda Volta e tiveram 8 filhos.

Esse prato domingueiro originalmente era feito com carnes de caça como inhanbú ou pato selvagem ou galinha d´agua. Arquivo de Dona Benedita Henriques dos Correios.

Heleno Henrique de Araújo.

domingo, 12 de setembro de 2021

A Sesmaria

A palavra sesmaria no tempo do governo imperial português significava a sexta parte de uma produção agropastoril. Assim se um produtor rural produzia seis garrotes em 1 ano, um animal era da coroa lusa. Se o dono do roçado colhesse 12 sacos de feijão em um ano, 2 sacos seriam pagos ao governo português. Teoricamente deveria ser assim. Porém o governo de Portugal queria era fixar o homem com sua família na terra até então inexplorada.

De posse do documento da terra a família empreendora se embrenhava sertão adentro énfrentando índios, feras, cobras venenosas, escassez de água e de alimentos. Uma vez escolhida a faixa de terra próxima a uma fonte de água, a família construía uma casa rústica de taipa e pau a pique, com chão batido de barro. Fazia em anexo curral de ramada. Pequenos açudes e os roçados cuja dimensão era dividido entre os familiares, com duas cinquenta da terra plantada para cada um membro da família, a fim de que todos tivessem participação nos lucros.

O gado bovino da raça mirandesa era quem trazia maior divisa financeira para os exploradores da terra. Pois do leite da vaca fazia-se queijo de coalho, já que um litro de leite mantém 3.33 por cento de proteína e para se fazer 1 quilo de queijo se gasta 10 litros de leite, esse produto bastante procurado contém 33 por cento de proteína. As mercadorias produzidas na fazendinha eram trocadas uma vez por mês no arruado, do povoado mais próximo. Por exemplo, se trocava 10 sacos de feijão por 1 garrote para cultivador. Também se trocava 1 cabra parida por 4 sacos de farinha de mandioca. Quase não existia dinheiro.

O nordeste brasileiro foi colonizado por sistemas de sesmaria, em que o primeiro almoxarife da coroa, Garcia Dávila emitia as vias de doação para os sesmeiros que incluía além de 2 cabeças de gado, animal de serviço, ferramentas para agricultura, mudas e sementes, uma égua de raça, um jumento grande, para produção de burro mulo.

Em Picuí PB nesse período foram emitidas mil e quatrocentas sesmarias, sendo as primeiras de nome Umburana, Caribeirinha, Várzea verde, Várzea Grande, Várzea da Cruz, Jerimum, Gagatos, Cauassu, Pinturas, Quixaba, Passagem, Volta e Gravatá. Canturaré, que no linguajar índio quer dizer "cantar das águas da enchente", em cuja quadrinha retrata a riqueza das águas das chuvas.

Como se diz "Canta, canta cantarola, venha ver o meu cantar, venha ver as águas das chuvas, encher o canturaré para depois nos plantar".

Heleno Henriques de Araújo.

sábado, 4 de setembro de 2021

Padre Barros e o garrote das pinturas

Padre Barros e o garrote das pinturas
Barrinho foi um padre elitista que comandou a Igreja de Picuí por 25 anos. Filho do casal de fazendeiros José Joaquim de Barros e Dona Maria Rosa Cunha, ele nasceu em 1912, na fazenda Cabeça de Boi, no Município de Picuí e se ordenou sacerdote na Igreja Católica no ano de 1933. Trabalhou nas paróquias de Cabedelo, Campina Grande, Cabaceiras e Cuité. Em 1958 assumiu a paróquia de São Sebastião na sua terra natal, tendo falecido em 1983.

Padre Barros quando seminarista viajava a cavalo da fazenda de seu pai até a cidade de Alagoa Grande, onde tomava o trem para chegar a João Pessoa onde estudava no seminário arquidiocesano da Paraíba.

Padre José da Cunha Barros gostava de tudo o que era bom, principalmente do menu do almoço do dia de domingo, que era repleto de queijos importados, pães italianos, assados variados ricamente guarnecidos com arroz feito com quirelas de castanha de cajú. uvas passas e farofa de ameixas, tendo como sobremesa frutas silvestres da região.

A sua vida santa, de conduta inatacável, foi dedicada totalmente à evangelização das pessoas que moravam em Picuí e nas cidades circunvizinhas, cujas paróquias eram subordinadas ao nosso conterrâneo Padre Barros.

Conta-se que certa festa de janeiro ao sentar-se à mesa para almoço de domingo, o padre que não gostava de ser incomodado na hora da refeição foi avisado pela governanta da casa de que um paroquiano havia trazido de presente para leilão de São Sebastião um bonito garrote do Sítio Pinturas, todo ornamentado com fitas coloridas da época natalina. Segundo a moça que servia o almoço ao religioso era um animal muito bonito que renderia boa quantia para as festas do padroeiro. Padre Barros levantou-se rapidamente da mesa e foi receber o gentil presente do homem do campo. E qual não foi a sua surpresa quando constatou ser um animal feito de madeira de lei.

O feliz ofertante foi rispidamente repreendido pelo religioso que falou:

- O senhor me incomodar na hora do almoço para me dar de presente um garrote feito de tábua de baixa categoria!
 
O rurícola terminou a conversa com o padre afirmando:

- Me disseram que o senhor tinha uma coleção de garrotes de madeira.

No que o padre completou, desgostoso diálogo:

- O senhor conseguiu estragar o meu almoço de domingo!

Heleno Henriques de Araújo.   

sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Poema Bodas de Ouro

Poema Bodas de Ouro
A minha eterna enamorada Terezinha

Quando em 1963 apareceste em minha vida
Parecias uma princesa, cravejada de beleza
Que a natureza lhe dera
Brotando um amor quase de fera, verdadeiro, aguerrido
Galanteios eram recebidos, mas só a mim tu querias

Dando-me três filhos, três tesouros
Que formados na universidade se aproximaram do ouro
Dando-lhe sustentáculos reais a esse abençoado casamento de Bodas de Ouro

De Maitre Heleno Henriques de Araújo