sábado, 16 de outubro de 2021

As fontes de água dos rios, riachos e esbarros d´água

Picuí Grande Série Reminiscências 07

As fontes de água dos rios, riachos e esbarros d´água

Antônio Henriques Neto, o princípe dos poetas da literatura nativa, em seu primoroso poema "O Véio Carro de Boi", encantou ao mundo da poesia matuta, declamando teluricamente:

Já Véio, muito cansado,
Um dia fui convidado
Pra cunhecer a capitá
Vi muito luxo e riqueza
Mas toda aquela beleza
é mais artificiá

Vi as águas cristalina, trancada numa piscina
Briando contra a vontade
Deferente das maretinhas dos rios
Que correm em totá liberdade

Muito embora tenhamos bons rios como São Francisco, Pajeú, Paraíba, Potengi, Seridó, Jaguaribe, Castanhão, Parnaíba, as águas são grandes problemas para o nordeste, pois as temporadas das chuvas geralmene chegam em janeiro e terminam em maio, não existindo acúmulo de águas para o restante do ano.

O sesmeiro com documentos da posse da terra nas mãos, procurava junto com sua família, uma fonte de água, perene ou temporária, para erguer sua casa de morada, pois as paredes da mesma eram feitas de pau a pique e reforçadas com barro molhado, com água, que é chamado de "barro batido".

Essa mesma água era necessária para o dia a dia dos seres humanos e dos animais. A sorte era que quando aparecia um boi com os cascos molhados de lama, já que os mesmos viviam livres nas capoeiras e nas colinas, pela falta de arame farpado, para cercar as propriedades. Era só o vaqueiro seguir o rastro do animal recém chegado que se descobria uma nova fonte de água.

No período considerado crítico, que era de julho a dezembro, os sitiantes vendiam na sua produção agro pastoril pela metade do preço da mercadoria. Com o dinheiro arrecadado supria as necessidades das sesmarias. Por exemplo, uma novilha gorda de 200 quilos, que deveria ser vendida por 4 mil reais, o atravessador endinheirado só oferecia a metade do preço. E assim acontecia com as mercadorias produzidas no campo.

Na minha terra o rio Acauã é o mais importante dos demais. Ele nasce na serra do cotovelo e desce no sentido do sol nascente, recebendo os afluentes chamados Várzea, Letreiro, Cachoeirinha, Da Volta, Gravatá, Passagem, Araújo, Tamanduá, Barra, até encontrar-se o arruado Pucuhy com o rio do Pedro, que tem as suas nascentes na Serra do mesmo nome, criando um grande volume de água que banha rio abaixo as margens acricultáveis de uma infinidade de agriculturas ribeirinhas. A ação benéfica do rio Acauã é que, embora temporário, já foi apelidado de "pequeno rio Nilo do sertão nordestino".  

As chuvas anuais daqui do nordeste, quando caídas no seu devido tempo, é a maior riqueza que o povo comemora de acordo com as fases da Lua.

Heleno Henriques de Araújo.

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