sábado, 22 de janeiro de 2022

Os casamentos encomendados das sinhazinhas do nordeste brasileiro

 Picuí grande - Série reminescências 12

Os casamentos encomendados das sinhazinhas do nordeste brasileiro

O emissário falador era o cidadão que percorria a cavalo algumas fazendas da região apresentando uma espécie de cadastro pessoal dos pretendentes a casamento, rapaz ou mocinha, ao casal de fazendeiros de determinada propriedade rural.

Com um manuscrito rudimentar o emissário descrevia para os pais da noiva os caracteres pessoais do candidato a casamento. Por exemplo, na fazenda umburanas, distante três léguas do povoado x, existia uma mocinha querendo se casar com 18 anos, 1.68 de altura, pele branca, cabelos e olhos claros, alfabetizada, cujos dotes eram adiante mencionada. A senhorita Ana Lúcia possuía como dotes 2 novilhas de vacas de 4 eras, amojadas, 1 jumento grande raçador, 1 poltra alazão, do pé esquerdo branco, treinada para puxar charrete de 2 rodas, também presente dos seus pais. 3 marrans de ovelha cabeça preta e 1 bode pai de chiqueiro avermelhado. Os dotes era o segundo principal interesse do noivo pois já começava a vida com certo patrimônio.

Era marcado a data do encontro dos pais e dos possíveis noivos no povoado mais próximo. Constava do seguinte ritual: o emissário falador pronunciava em voz alta o rapaz que pretendia se casar com os respectivos pais, em seguida era apresentada a candidata a noiva, com seus pais e padrinhos. Rapaz e moça, principais atores dessa festa se olhavam por um determinado tempo e o noivo tomava a iniciativa de segurar as mãos da mocinha, beijando as mãos e anuncinando que aceitava o casamento para o próximo dia pela manhã, sendo que o senhor vigário realizava o mínimo de cinco casamentos por data marcada, de vez que o padre vinha da cidade maior montado a cavalo ou em charretes alugadas.

Uma vez confirmado o casamento, a festa se iniciava às nove horas da manhã após o casamento, com um grande cardápio de cozinhas regionais, que algumas vezes alcançava 100 pessoas. Iguarias como carneiro assado, bode e buchada, assados de garrotes, guizado de galo capão, peru, pato, guiné, eram acompanhados de farofa de feijão verde com cuscuz, batata doce assada na fogueira, arroz de graxa e farofa dos casamenteiros, regado a bebidas como vinho de Portugal, conhaque alcatrão, cerveja e em alguns casos raros, whisky. O interessante nesses casamentos encomendados é que nunca acontecia a separação dos mesmos. Ali se iniciava uma nova família como produtores rurais, sobrevivendo com os produtos surgidos no trabalho diário, sendo que uma vez por mês, o casal ia ao arruado mais próximo vender, trocar os seus produtos, por outros não produzidos em seu sítio, surgindo uma economia doméstica auto suficiente. Esse era positivamente os casamentos do nordeste de outrora, sendo que ambos os pretendentes participavam da festa com bastante alegria de sua parte e dos pais, padrinhos e convidados. O ponto maior dessa união futura era a colocação das alianças de ouro entre o noivo e a noiva. Significava um compromisso eterno entre os noivos.

Heleno Henriques de Araújo.

Um comentário:

  1. Boa Tarde Sr. ARAUJO!
    Sou o Sossier Ernesto Buosi neto.
    Gosttaria de receber noticias suas.
    Aguardo ansiosamente, com um terno abraço.
    16 991102027

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